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Henrique Máximo
Em Janeiro de 1994 eu fiz uma viagem para o nordeste com minha família com destino ao Maranhão, terra natal dos meus pais. O transporte era um Corcel II que meu pai tinha na época (alguns vão se lembrar desse carro) e logicamente quebrou várias vezes no caminho. Mas não é de Corcel que eu quero falar e sim do que eu aprendi nessa viagem.
Na época eu tinha 6 anos, estava na fase da infância que começamos a discernir o certo do errado, imagino como os pais devem ter trabalho. Crianças adoram viajar, ainda mais quando você é acostumado desde bebê a fazer isso, afinal, sou filho de motorista de ônibus. Viajar é bom para conhecer lugares novos, mas também para conhecer culturas e realidades diferentes da sua.
Cresci num bairro simples de Taguatinga, cidade satélite do Distrito Federal. Sem luxo, mas com muito amor e até certo ponto mimado por ser o caçula, não tinha tido contato com a pobreza extrema que me deparei em cidades do interior do nordeste.
Eu tinha o que comer todos os dias, mesmo assim minha família era considerada classe baixa em Brasília, mas ao me deparar com crianças com roupas sujas (quando tinham roupa), desnutridas e sem infância, fiquei muito chocado. Para se ter uma idéia, o Corcel II velho do meu pai parecia uma Ferrari aos olhos de alguns deles. Foi impressionante a alegria de um menino que ganhou da minha mãe uma entrada para o Circo por ter vigiado o carro, algo em torno de R$5 naquela época.
Conhecer a realidade social forma caráter? Sim. Eu nunca mais fui o mesmo depois dessa viagem. Encantei-me pelo nordeste e a humildade de sua gente. Orgulhei-me de saber que minhas origens vinham daquele povo, que sabia sorrir mesmo vivendo na extrema pobreza e sendo esquecidos pelos governantes.
Aprendi o quanto era fútil me sentir inferiorizado porque meus coleguinhas tinham vídeo games, roupas ou brinquedos melhores que os meus, enquanto que aquelas crianças do nordeste adorariam ter pelo menos as coisas que eu tinha ou ter refeições diárias como eu.
Onde entra a questão do caráter? A partir do momento que eu mudei minha postura em relação à sociedade comecei a ser discriminado por não ser uma criança alienada pelas idéias que a grande mídia e a classe média vendiam como verdade, principalmente no que se refere aos pobres. Quando você sente preconceito por ter idéias diferentes da maioria, geralmente você está indo no caminho certo.
Lógico que o caráter é determinado por vários fatores, mas ter conhecido tão cedo uma realidade que eu não conhecia foi algo que ajudou muito na minha formação como ser humano e algum tempo depois como jornalista.
Encerro meu texto com uma frase do filósofo japonês, Seicho Taniguchi, que define a visão de mundo que tenho hoje: “Repare nas coisas que possui, e não no que falta.”